domingo, 9 de dezembro de 2012

Jogando The Elder Scrolls V: Skyrim (parte 18)


O Sol, ainda que ameno, fez Zael suar. Sua cota élfica de couro fervido, nobre, trazia conforto na batalha, mas após a perigosa investida contra as guerreiras Forsworns nem as melhores armaduras seriam confortáveis.
- Você foi imprudente! – disse à Lydia. Nunca precisou chamar sua atenção, mas dessa vez ela passou dos limites. Ele, arqueiro, sorrateiro, promove seus ataques furtivamente. Sabia que a intenção dela foi ajudá-lo, mas além de por em risco suas vidas atrasou sua excursão para Northwatch Keep. Lydia preferiu não respondê-lo.

A estrada cortava a fortaleza Broken Tower Redoubt, levando-os para uma ponte. Consultando o mapa Zael descobriu que cruzá-la os afastaria do destino. A ponte estava disposta entre duas montanhas, deixando o rio a uma grande distância abaixo. O terreno que ladeava o início da ponte era extremamente íngreme. Zael não estava disposto a arriscar-se na descida.

Retornando um pouco pela estrada eles encontraram um percurso escondido. A falta da pavimentação das pedras claras o fez perceber tratar-se de uma trilha improvisada: um insignificante caminho rodeado por árvores, plantas nativas e rochas acidentadas, sempre seguindo para baixo. Zael não hesitou e ambos desceram pelo percurso correndo. Depois de algum tempo eles encontraram a orla do rio. Olhando para cima ele vislumbrou a ponte. Lá estava, distante, um pouco fosca pela neblina vespertina que surgia timidamente.

Eles continuaram caminhando rente ao rio, buscando um local mais apropriado para a travessia. Lydia teve a esperança de encontrarem uma segunda ponte. Sua armadura pesada regredia sua agilidade na água. Não deixou de notar que as correntezas eram fortes, rápidas e perigosas.

A trilha agora não passava de um risco descampado em meio às rochas e a vegetação rasteira. Não foi surpresa o fato dela simplesmente desaparecer nesta margem e continuar sua ondulada viagem do outro lado do rio. Enfim, chegara o momento. Apesar do cansaço não tiveram dificuldade de chegar ao outro lado. Sem repouso, prosseguiram. Pouco distante da margem a estrada inclinava-se vagarosamente, permitindo que os viajantes continuassem imprimindo seus passos rápidos, descuidados. Lydia seguia na frente, chacoalhando sua maça contra o aço da armadura. Zael, mais silencioso, tentava acompanhá-la.

Bons momentos. Nada como o silêncio da estrada para fazê-lo refletir sobre sua conduta. Muitos eram os seus compromissos. Mesmo estando cansado almejava encontrar Avulstein o mais rápido possível, afinal, além de ter prometido à matriarca Gray-Mane ajudá-lo no resgate, a segurança de Thorald estava em jogo.

Abruptamente os pensamentos de Zael foram interrompidos. Quando notou, Lydia tencionava uma flecha em seu arco ao máximo, apontando para algum ponto à esquerda da estrada. Uma grande rocha impedia o campo de visão de Zael. Sorrateiramente aproximou-se para verificar o que a afligia. Em meio às pequenas árvores, arbustos e rochas salpicadas uma pequena criatura mirava-os com seus olhos focados, porém um tanto medrosos. Tratava-se de um Stray Dog. Zael pousou sua mão levemente sobre o arco de Lydia, pedindo-a apenas com o olhar para abaixar a guarda. Aproximou-se vagarosamente do animal que, percebendo um perigo eminente, começou a rosnar. Estava agora a apenas alguns passos de distância. Isso foi suficiente para que o aguçado instinto do Stray Dog fizesse-o perceber que o arqueiro não pretendia atacá-lo, afinal, se o quisesse, já teria feito. Mesmo assim ele continuava friso, tenso. Zael sabia que ao menor descuido o cão poderia estranhá-lo e reagir ofensivamente. Ambos estavam apreensivos. Lydia ainda aguardava à distância, apenas observando. A um passo de distância, Zael abaixou-se e fez um carinhoso afago, perdendo sua mão em meio ao emaranhado grosso do pescoço do seu novo amigo. Stray Dog ainda ficou assustado por alguns instantes, mas logo percebeu que não havia o que temer, aceitando o pedido de trégua silencioso. Zael e Lydia encontraram um novo parceiro.


Stray Dog foi alimentado fervorosamente. De certo havia dias que não comia. Devorou em instantes dois grandes pedaços de carne de coelho, fardo que alimentaria Lydia e Zael por quase dois dias. Após a refeição ele mostrou-se animado e prestativo. Corria sempre à frente dos heróis, fazendo uma espécie de reconhecimento de área, com latidos e rosnados que poderiam chamar a atenção de um dragão a quilômetros de distância. Essa sem sombra de dúvidas não era as expectativas do arqueiro, mas não conteve o animal em sua ajuda atabalhoada.

A trilha às vezes espiava montanhas íngremes, pequenas florestas, descampados abandonados e acidentados. O percurso não foi difícil, mas suficientemente grande para que a noite caísse muito antes deles chegarem ao destino. Stray Dog agora estava mais silencioso, talvez já acostumado ao ritual de viagem que os guerreiros estavam habituados.

Zael começou a sentir um cheiro salgado, um pouco pesado. Teve suas suspeitas logo confirmadas quando ao longe deixou de enxergar a continuidade das montanhas e florestas. Chegavam agora ao vasto Sea of Ghosts. Faziam anos que Zael não visitava o oceano.


Rente à praia caminharam. A noite avançava. O cheiro do mar se misturava com o da neve. Apesar de estarem diante do Sea of Ghosts, as montanhas impetuosas os cercavam, trazendo consigo o gelo e o vento cortante.

Uma ou duas horas mais tardes chegaram. Northwatch Keep era uma fortaleza modesta, protegida por meia dúzia de elfos arqueiros em seu exterior. Zael, Lydia e Stray Dog passaram em meio às árvores nevadas, obscurecidos pela noite cinzenta. Eles procuravam por Avulstein Gray-Mane, que prometera aguardar por eles próximo ao lugar. Do lado direito da fortaleza uma grande pedra encobria a visão da continuidade da estrada. Ao atravessá-la, um pequeno grupo foi encontrado. No total eram três guerreiros: Vidrald, Geircund e Avulstein Gray-Mane, o líder. Todos juntos reuniram-se numa sociedade de seis guerreiros. Certamente se investissem contra a fortaleza em poucos instantes os elfos estariam mortos. Zael não tinha dúvidas disso. Preocupava-se, entretanto, com a segurança de seus amigos. Poderiam eles atravessar a defesa de Northwatch Keep sem problemas, ferimentos ou mortes?

O arqueiro não sabia lidar com essas situações. Sempre prezava pela segurança daqueles que o acompanhavam, ao ponto de preferir arriscar-se sozinho numa invasão do que expô-los ao aço dos inimigos. O excesso de zelo trouxe-lhe um desconforto no peito. Não estaria ele alimentando uma falta de confiança implícita nos amigos? Lydia já se acostumara com esse ritual inapropriado. Mesmo não aceitando respeitava os seus pedidos. Ao menos era o que ele percebia. Temeu que o problema seria com o grupo de Avulstein, que certamente resistiria ao pedido. Mediu bem suas palavras.
- Vou avançar sozinho no início, matando em silêncio os vigilantes – fez uma pausa. Todos continuaram aguardando, atentos. – Terminando de limpar os muros da fortaleza voltarei aqui para entrarmos todos juntos, num massacre rápido.
Obteve êxito. A noite não permitiu captar totalmente a expressão dos homens, mas todos assentiram sem palavras. Até o cão pareceu entender, do seu modo.


Perfeito. Noite, escuridão, silêncio e um arco mortífero. Zael avançou pelo aglomerado de árvores em frente à fortaleza. Eram pinheiros, supôs, pela tato do caule. Postou-se atrás de um que insistia em manter suas folhas secas em meio ao frio. Tencionou uma boa flecha negra embebida de veneno aracnídeo em seu arco de guerra, provando o prazeroso som de corda sendo tensionada. O controle da respiração era imprescindível, tão quanto a paciência. O sangue frio de esperar o momento certo para o disparo. Enxergava apenas a silhueta do inimigo à distância, cruzando uma das muralhas distraído. Dois segundos, talvez um pouco mais. Escutou o som característico do vento sendo cortado e o previsível rosnado abafado daquele que perdera sua vida sem sequer desconfiar que estava sendo observado. Os outros vigilantes não notaram o vulto que caia para fora da fortaleza, despencando de encontro à neve. Pela experiência do arqueiro, julgou ter depositado a flecha na lateral do peito. Se ele usava cota de malha, pouco tinha amortecido o impacto fulminante.

Ladeando as muralhas, agora mais próximo, disparou mais algumas flechas. Em menos de meia hora todos os elfos estavam mortos. Percorreu o lugar para destroçar a esperança daqueles que agoniavam, mas não foi necessário sacar sua maça mágica. Recolheu algumas flechas e moedas de ouro entre outros itens menos importantes. As armaduras dos mortos eram de couro, pouco nobre e de valor medíocre. Carregavam um emblema élfico qualquer. Em limitadas lembranças pensou já ter se deparado com essa bandeira, mas dispersou seus pensamentos no instante seguinte. Resolveu deixá-las ali. Não tinham valor para ele.

Ficou tentado a invadir o local sozinho, mas sua promessa forçou-o a voltar ao grupo para avisá-los que o terreno estava limpo. Os próximos momentos seriam de muitos gritos, choques corpo-a-corpo e sangue derramado. Essa situação deixava Zael apreensivo. Afinal, ele era amigo do silêncio, não do desespero.

E assim foi. Todos entraram correndo por uma estreita porta dos fundos, encontrando vários inimigos descuidados. Aos montes outros foram aparecendo. Eram seis contra vinte, ou mais, talvez. Apesar disso a luta não estava injusta. A experiência dos invasores era visivelmente superior. Ainda assim houve momentos de terror.

No primeiro salão eles encontraram algumas masmorras. Todos os prisioneiros eram hostis, mesmo depois de libertos. Nem ao menos um agradecimento foi dito. Alguns corredores depois eles chegaram a um quarto requintado. Logo foram avistados pelos dois únicos presentes: um feiticeiro élfico e Thorald. O irmão Gray-Mane estava acorrentado, totalmente impossibilitado. O mago, por outro lado, se mostrou um verdadeiro anfitrião. Levantou os braços em sinal de súplica benção aos deuses, olhando os visitantes com olhos carregados do ódio dos demônios. Chegou a pronunciar algumas palavras, mas o estrondo do raio que se formou em suas mãos foi tamanho que eles sequer perceberam isso. Aos olhos dos heróis o tempo passou lentamente, mas a investida do inimigo durou um piscar de olhos. Um raio azul celeste, extremamente brilhante, projetou-se de dentro de seus punhos unindo-se no centro do arco de seus braços, provocando uma linha acidentada e iluminada, porém com muita objetividade. No exato momento do terrível barulho o feitiço atingiu o peito de Geircund. Suas armas foram arremessadas para os lados instintivamente e seu corpo foi lançado bruscamente contra a parede do salão. Lydia foi a única a reparar que o feiticeiro almejava disparar outra magia. Sem desvencilhar a corrente elétrica do primeiro ataque ele deferiu outro semelhante raio contra ela. Por sorte, ou mais provavelmente por habilidade, a guerreira saltou para trás de uma pilastra grossa de madeira. O ataque rachou completamente a estrutura disparando pequenos estilhaços queimados para todos os lados.

O inimigo estava sendo habilidoso, mas os heróis, apesar de atordoados, sequenciaram, sem prévia combinação, um ataque sincronizado. O primeiro foi Stray Dog. Com um salto baixo venceu a distância e cravou sua mandíbula na perna esquerda do feiticeiro. Não se sabe como, mas instantaneamente o mago transferiu uma poderosa descarga elétrica para o animal que caiu desacordado. Enquanto os outros guerreiros se aproximavam, uma flecha certeira cruzou a sala e fincou o pescoço do mago, jogando-o com força contra uma mesa. Numa inútil esperança ele levou as mãos à garganta. Isso deu tempo suficiente para que o machado de Avulstein exercesse sua matança, abrindo uma lasca no peito do homem. Um corpo sem movimentos foi arremessado violentamente para o lado quando o atacante puxou o machado. Vísceras e jatos de sangue tornaram o ambiente tenebroso num instante. A batalha estava terminada.

Lydia correu para acudir Geircund. Seus olhos queimados ainda abertos olhavam para um teto distante. Todo o corpo estava quente, com uma espécie de queimadura interior que projetava para fora feridas esporádicas. O amigo de Avulstein estava morto. Lydia silenciosamente avisou aos presentes. Zael aproximou-se do cão. Estranhamente ele ainda estava vivo, mas tremia tenebrosamente de uma forma que o arqueiro repugnava. Ele não respondia aos incentivos dos guerreiros, que agora o cercavam completamente. Avulstein, prevendo o resultado da enfermidade, afastou-se para encontrar seu irmão, prezo nas paredes mais internas da sala.
- O animal está sofrendo muito. Parece ter perdido os sentidos. Acho melhor sacrificá-lo – Lydia disse num tom vazio.
Mesmo que sua lógica concordasse com Lydia, Zael pegou uma poção de cura em seu inventário na esperança de trazê-lo de volta. Ainda antes de utilizá-la o corpo de Stray Dog enrijeceu fortemente e depois perdeu o sopro da vida. O pequeno cão encontrado solitário na floresta pode pouco desfrutar da companhia dos seus companheiros. Zael sentiu-se desolado, com a alma impotente. Afastou-se do grupo caminhando em direção à porta. Observava-os em silêncio. Dois mortos, um resgatado. A vida às vezes encontrava caminhos sombrios para conduzir seus interesses. Teriam os deuses influência nesses acontecimentos? Zael abanou a cabeça como se isso pudesse afastá-lo dos devaneios de um homem inconformado. Thorald, liberto, aproximou-se do grupo e agradeceu. Tinha o rosto carrancudo e estava muito ferido, mas os invasores perceberam a gratidão verdadeira em seus olhos. Seu irmão Avulstein deu-lhe uma espada e todos deixaram o salão do feiticeiro.

A saída da fortaleza, dali em diante, foi tranquila. Não havia outros inimigos. Conseguiram transportar os dois corpos para fora e enterrá-los com dignidade. Ao final do trabalho o raiar do dia se aproximava. O costume de Skyrim dizia que o amanhecer fortalecia os homens. A disposição de Zael lhe dizia o contrário. Fez o possível para não transparecer isso aos outros.
- Sua mãe, Fralia Gray-Mane, pediu que viéssemos resgatá-lo. Espera revê-lo em segurança em Whiterun. Por isso, devo cumprir minha promessa e escoltá-los até a cidade – Zael ofereceu modestamente. Thorald interveio:
- Não vamos para Whiterun.
Inconscientemente Lydia e Zael ficaram confusos. Avulstein, todavia, pareceu concordar com a proposta sem pestanejar. O que faria um homem raptado alimentar a preocupação de sua família adiando o retorno a sua cidade? Pelas próprias palavras de Avulstein, eles realizariam o resgate de Thorald com o objetivo de trazê-lo de volta à Whiterun. Alguma coisa nessa decisão descabida incomodava o arqueiro.
- Não entendo. Creio que você almeja retornar para a segurança do seu reino o quanto antes. Além disso, sua mãe aguarda-o ansiosamente.
- Eu não posso mais voltar para Whiterun. Aliás, se o fizesse estaria inclusive arriscando a segurança de todos vocês, meus bravos salvadores.
Zael percebeu elementos traiçoeiros nas palavras e no tom de voz do resgatado. Afastou seus olhos para os corpos caídos, todos mortos por seu arco. Com um susto recordou-se em meio às névoas do seu subconsciente o local onde avistara pela primeira vez o estandarte das armaduras élficas. Um poderoso clã de Whiterun acabara de perder alguns de seus assistentes.


Caros amigos leitores, durante algum tempo venho escrevendo meus passos na fabulosa aventura pelo mundo vasto de Skyrim. Fiquei tentado a fazer isso para fornecer a vocês elementos mais minuciosos desse fantástico game. Por isso fui detalhando cada passo do meu personagem, com algumas fotos e vídeos, sendo todos apresentados num formato de história, às vezes, somente quando necessário, complementada com informações pontuais do andamento do jogo.
Bom, foram até então 18 posts. Alguns mais interessantes que outros, confesso, mas todos feitos com apreciação de minha parte. Passados todos esses dias acredito termos colecionado uma sequencia de elementos que servirão, pelo menos superficialmente, para fazê-los perceber a beleza dessa obra. Diante disso, finalizarei as aventuras de Zael nesse 18º post, taxando-o como encerramento. Mesmo assim, ainda haverá o post oficial de Análise do Jogo para Skyrim, que acontecerá somente quando eu finalizar o game.
Enfim, é isso. Gostei muito de tê-los em minha companhia nessas aventuras e espero revê-los o post conclusivo num futuro próximo.

Abraços e até a próxima!
Guilherme Pontes

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